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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Aproveitar o Tempo

Apostila (11-4-1928)

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos –
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.

Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...

Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.

((Álvaro de Campos))

Encontrei este poema num site e decidi publicá-lo, ele fala de mim.

■■■Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/facam10.html

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Tempo...


Outra lacuna no blog...

Tempo, é o que preciso saber controlar...


É estou sem tempo e sem criatividade... rs.


Mas quero hoje desejar uma ótima semana à todos.


Que o tempo esteja a seu favor, sem correria, sem pressa.


Abraço.


ƒlamarion Jr.:

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

"Às favas com o escrúpulo"








No dia 12 passado a Assembléia Legislativa de Mato Grosso sabatinou e aprovou dois novos Conselheiros para o Tribunal de Contas do Estado. Um deles provocou grande alvoroço e até um Mandado de Segurança Preventivo impetrado pelo Ministério Publico estadual no Tribunal de Justiça, tentando impedir com que seu nome fosse aceito. Isso é comum acontecer? É corriqueiro o Ministério Público tentar barrar um nome para ocupar uma cadeira no Tribunal de Contas? Não que eu tenha notícia.
No outro dia de sua sabatina (dia 13), Inês amanheceu morta e mesmo com toda a polêmica em torno do seu nome, o até então sabatinado, amanheceu nomeado. Na sexta-feira, dia 14, foi empossado. Tudo se deu numa rapidez que choca qualquer um que tenha um mínimo de discernimento.


Mas quem é essa pessoa que mereceu o repúdio do Ministério Público e a ultra-agilidade do Executivo em assinar sua nomeação e empossá-lo? Trata-se do deputado Humberto Bosaipo.

Bosaipo estava em seu quinto mandato consecutivo de deputado estadual. Partícipe de importantes momentos da política de Mato Grosso. Acumula em sua carreira tantos feitos e realizações políticas quanto ações no Ministério Público. São 50 ações civis públicas pela prática de "atos que resultam em improbidade administrativa".(...)
Em toda sua carreira parlamentar, segundo informações da Assembléia de Mato Grosso, Bosaipo figura como autor individual de 239 leis que vão desde declarações de utilidade pública até a criação de municípios. (...) Mas Bosaipo fez mais que isso, ele também aparece em "diversas ações penais com acusação de peculato e formação de quadrilha das quais 2 (duas) a denúncia já foi recebida", como está no documento do Ministério Público, nº 1119840/2007, entregue aoTribunal de Justiça.
Ah mas nenhuma das 50 ações de improbidade administrativa e nenhuma das ações penais com acusação de peculato e formação de quadrilha foram transitadas em julgado, alegou o desembargador Licínio Carpinelli Stefani, ao negar a liminar ao mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público. O desembargador usou o princípio da não culpabilidade, isto é, "ninguém pode ser tratado como culpado qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja a prática lhe tenha sido atribuída sem que exista a esse respeito decisão judicial condenatória transitada em julgado".
Está certo! Aí vem o cidadão comum, aquele que, se confirmadas as suspeitas do MP, foi o lesado pelo deputado, e questiona: como é que alguém com 50 ações civis de improbidade administrativa, mais oito processos criminais por peculato e formação de quadrilha, pode ter a "idoneidade moral e ilibada reputação" exigidas constitucionalmente para ocupar tal cargo?
Está certo! Estão todos certos. Erradi é o cidadão comum, aquele para quem a lei existe com todos os seus rigores e o responsabiliza por cada um dos seus atos. Esse cidadão que ainda tem a consciência dotada de sentido moral se sente ultrajado e impotente.
O novo conselheiro é uma má pessoa? Não o conheço, mas com tantas pendências a serem esclarecidas na Justiça e perante a sociedade, não me parece probo ocupar um cargo onde terá a competência de julgar outros por atos que ele próprio é acusado de ter cometido.
E assim a imagem da Instituição Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, que já não era das melhores, consolida-se como uma instituição de indoneidade duvidosa. Sob suspeição ficarão seus atos, suas decisões e seus relatórios. Será o ônus por não zelar pela sua própria reputação, por não partir dela a exigência de critéiros mínimos para formação de seu quadro. Talvez tenha chegado a hora de repensar o Tribunal de Contas e analisar a sua real utilidade.
Este episódio que aconteceu em Mato Grosso, e é bom que o Brasil tome conhecimento, foi só mais um capítulo degradante que imbeciliza e emporcalha o Estado, tudo com aprovação do Legislativo, aval do Executivo e as bençãos e aplausos da Justiça, dando a sensação de que todos mandaram às favas o escrúpulo.

***Texto extraído, parcialmente, do Jornal "A Gazeta", Caderno "Opinião", página 2A. Cedido gentilmente pela escritora e economista Adriana Vandoni.
Fotos: Fonte Site do TCE

Flamarion .:Jr.: